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Poesia e Ditadura

O documentário ‘Uma noite em 67’ impacta ao resgatar lembranças do III Festival de Música Popular Brasileiro, que aconteceu em plena ditadura militar, período de intensa repressão à liberdade de expressão

 

O documentário brasileiro Uma noite em 67, foi dirigido por Ricardo Calil e Renato Terra e lançado em julho de 2010. Ele resgata as lembranças do III Festival de Música Popular Brasileiro, que ocorreu em outubro de 1967 no Teatro Paramount, em São Paulo, e foi transmitido pela TV Record.

“Quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar!” é o refrão que embala a primeira cena, em preto e branco. No palco, Edu Lobo, junto de Marília Medalha, apresenta sua canção ‘Ponteio‘ que, classificada em primeiro lugar na competição, levou o cobiçado Prêmio Sabiá de Ouro.

A obra é enriquecedora ao revelar, por meio de depoimento de cantores como Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso e Gilberto Gil, os dramas da censura e a pressão a que eram submetidos pelo período da ditadura militar brasileira. O filme também ilustra a rivalidade entre os grupos Jovem Guarda e MPB, as reivindicações pelo fim da guitarra elétrica e o início do ritmo musical Tropicália.

Mesclado às canções, a obra exibe as entrevistas que apresentadores como Reali Jr. e Randal Juliano faziam com os cantores do Festival e traz depoimentos de profissionais envolvidos na produção do evento. Nomes como Solano Ribeiro [realizador do Festival], Paulinho Machado [diretor da TV Record, no período] e Zuza Homem de Mello [técnico de som], além de Sérgio Cabral [jurado].

O documentário destaca, ainda, alguns aspectos que eram importantes para as competições da época, por exemplo a participação do público. O cantor Sérgio Ricardo, que participava da competição, ao revelar para a plateia que havia mudado o arranjo de uma canção foi vaiado a apresentação inteira. Perdeu a paciência, quebrou seu violão e o jogou no público. Foi, evidentemente, desclassificado.

É indicado para todos aqueles que se interessam, não apenas por como eram produzidos e realizados os grandes Festivais de décadas atrás, mas por como era o acirramento dos ânimos dos compositores que queriam desafiar a força militar por meio de canções. É interessante compreender a visão deles sobre esse período e que o evento era mais que um mero festival, era a chance de levar a poesia de resistência para milhares de pessoas, por meio do rádio e da TV, em uma época de silenciamento.

Siga no Spotify a playlist do Festival: https://open.spotify.com/user/224qcqs7rhamy2cuvsx7pk33i/playlist/1cqPVsKdJJZMKfHOVgZpCY?si=6OTWEksRR46rJ6V_XtE5Aw

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